sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Morte no avião, de Carlos Drummond de Andrade

Boa noite imortais,
Abaixo poema para reflexão ( interpenetrem)


Morte no avião
Carlos Drummond de Andrade


Acordo para a morte.
Barbeio-me, visto-me, calço-me. (...)
Tudo funciona como sempre.
Saio para a rua. Vou morrer.

Não morrerei agora. Um dia
inteiro se desata à minha frente. (...)
Visito o banco. (...)
Passo nos escritórios.(...)
Estou na cidade grande e sou um homem
na engrenagem. (...)
A fatura. A carta. Faço mil coisas
Que criarão outras mil, aqui, além, nos Estados Unidos.

Tenho pressa. Compro um jornal. É pressa
embora vá morrer. (...)
Comprometo-me ao extremo, combino encontros
a que nunca irei, pronuncio palavras vãs,
minto dizendo: até amanhã. Pois não haverá.

Subo uma escada. Curvo-me. Penetro
no interior da morte.
A morte dispôs poltronas para o conforto
de espera. Aqui se encontram
os que vão morrer e não sabem.

(...)golpe vibrado no ar, lâmina de vento
no pescoço, raio
choque estrondo fulguração
rolamos pulverizados
caio verticalmente e me transformo em notícia.

Boa leitura !!
Bj
Profa Sandra Mariuci

6 comentários:

  1. Interpenetrei! Ai se meu marido me pega interpenetrando no IESA...
    beijao.

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  2. Qto ao texto.. forte, não? Adorei.. Sou fã das tragédias.:)

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  3. QUE HORROR PARA QUEM LER ISTO AS 8 HORAS DA MANHÃ, É SUICÍDIO NA CERTA, AINDA MAIS QUANDO VOCÊ QUER IR AO BANCO E ESTÁ DE GREVE BJS.....

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  4. Adorei... achei muito legal

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  5. Maravilindo, mas muito dramático, estou na fase do romantismo, apaixonada pelo CURSO.

    Bjs. mil

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  6. O verso sobre o peixe com creme de milho faltou!

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